ETAPAS PRINCIPAIS DA HISTÓRIA DA ASTRONOMIA
À medida que a sociedade humana se
desenvolvia, novos problemas se colocavam à astronomia, cuja resolução
necessitava de métodos de observação mais aperfeiçoados e processos de cálculo
mais precisos. Finalmente, surgiram os primeiros instrumentos astronómicos,
muito simples, e os primeiros métodos matemáticos de tratamento das
observações.
Na Grécia antiga a astronomia era já
uma das ciências mais desenvolvidas. Para explicar os movimentos aparentes dos
planetas, os astrónomos gregos elaboraram a teoria geométrica dos epiciclos
que constituía a base do sistema do
mundo geocêntrico de Ptolomeu (século II da nossa Era). Embora estivesse
incorrecto, este sistema permitia calcular aproximadamente as posições dos
planetas e contribuiu, em certa medida, para satisfazer às necessidades
práticas durante vários séculos.
O desenvolvimento do feudalismo
conduziu a um declínio das ciências naturais e os progressos da astronomia na
Europa estiveram parados durante vários séculos. Durante a Idade Média, os
astrónomos limitaram-se apenas a observar os movimentos aparentes dos planetas
e esforçar-se em pôr de acordo as suas observações com o sistema geocêntrico de
Ptolomeu.
Foi entre os árabes e os povos da Ásia
Central e do Cáucaso que a astronomia continuou a progredir, graças aos
trabalhos de sábios eminentes entre os quais podemos destacar Al-Battani (astrónomo persa do século
X). Também na Península Ibérica, onde se fazia sentir bastante a influência
árabe, Afonso X de Castela (avô do nosso rei D. Dinis) fundou em Toledo, no
século XIII, um observatório astronómico e publicou umas tabelas astronómicas,
as Tábuas Afonsinas, que vieram
substituir as de Ptolomeu e se mantiveram até ao século XVII.
Depois do feudalismo, com o advento de
novas ideias, deu-se na Europa um novo impulso ao desenvolvimento da
astronomia. As longas viagens marítimas, iniciadas pelos portugueses nos
séculos XV e XVI, deram-lhe foros de ciência de utilidade prática, aplicável à
resolução dos problemas da navegação, tais como o cálculo do ponto no mar, a
determinação dos rumos a seguir e o traçado de mapas, mais ou menos rigorosos,
das novas terras que se iam descobrindo. A par dessa utilização prática, a
astronomia pura já tinha, independentemente de qualquer aplicação «útil» à vida
corrente, uma vida própria, resultante da curiosidade humana de conhecer o Universo
em que vivia e as leis que o regiam. Copérnico,
ainda em pleno século XVI, determinou a verdadeira estrutura do sistema solar,
ao defender que a Terra não estava imóvel no centro do universo, mas que girava
em torno do Sol, assim como os outros planetas; surgia assim o sistema heliocêntrico e dava-se início
a uma nova etapa na história da astronomia.
Pouco depois, e utilizando as observações
rigorosas de Tycho Brahe, Kepler conseguiu determinar as «regras»
empíricas segundo as quais se efectuavam os movimentos dos planetas.
Finalmente, Newton descobriu a lei
geral da gravitação, donde se podiam deduzir aquelas regras.
Uma vez razoavelmente bem conhecida a
organização do sistema solar, tratou-se do estudo do Universo em geral,
primeiro observando e registando o que se via, depois procurando criar com
imaginação modelos explicativos do que era observado, como, por exemplo, a
partir das célebres contagens estelares de William
Herschel e, finalmente, tentando-se medir as distâncias a que se
encontravam as estrelas que se julgavam mais próximas do Sol. Esse objectivo
foi conseguido com as medições de paralaxes trigonométricas das estrelas Vega
(Struve, 1837), 61 Cygni (Bessel, 1838) e a Centauri
(Henderson, 1839). Foi à resolução deste magno problema que se deveu, em
princípio, a construção do Observatório da Tapada.
O aperfeiçoamento das qualidades
ópticas e mecânicas da aparelhagem utilizada, o aumento de potência dos
telescópios e o rigor sempre crescente na determinação do tempo foram tornando
cada vez mais rigorosos os resultados numéricos obtidos. Porém, tudo isto se
dava apenas em relação a dados geométricos e dinâmicos, ou seja a posições e
movimentos cada vez mais bem determinados.
A constituição das estrelas, as
distâncias às nebulosas extra-galácticas, as fontes de energia que asseguravam
a vida do Universo e o faziam evoluir no decorrer do tempo, não tinham, porém,
até princípios de século XX, bases sólidas em que se pudessem assentar com
confiança teorias que as explicassem ou permitissem efectuar observações de que
resultassem dados numéricos razoavelmente rigorosos. Tinham, no entanto, já
nessa altura sido iniciadas as observações que dariam novo impulso à
astronomia, orientando-a para novo rumo e fazendo nascer uma ciência
inteiramente nova, a astrofísica. O
princípio orientador dessas observações já era conhecido desde há longos anos;
tratava-se apenas da decomposição da luz por um prisma, que, nas mãos de Bunzen e Fraunhofer, deu origem à espectroscopia.
O primeiro trabalho, como já antes tinha acontecido, foi apenas descritivo e de
classificação. Fraunhofer analisou o espectro do Sol e descreveu as riscas que
nele se viam; Secchi fez o mesmo
para as outras estrelas, classificando-as em grupos de acordo com o tipo dos
espectros observados. Pouco a pouco, porém, a análise espectroscópica
revelou-se poderosíssima em relação aos resultados que permitia obter.
Composição química das estrelas, temperaturas, pressões, estados magnéticos,
massas, rotação, movimentos de aproximação ou afastamento não directamente
visíveis, distâncias, tudo isso podia ser determinado com maior ou menor rigor
e directamente ou não através das observações espectroscópicas.
Já em pleno século XX a astrofísica, assentando de início quase
exclusivamente na espectroscopia, passou a receber forte ajuda das teorias
físicas entretanto aparecidas. A relatividade, a teoria dos quanta, o
conhecimento mais preciso da estrutura da matéria, a descoberta da
desintegração atómica foram as fontes donde a astrofísica recebeu novo impulso.
Outra fonte, de descoberta mais
recente, onde a moderna astrofísica foi buscar novos elementos para observação
e estudo, foi a radioastronomia.
Esta tem hoje tão grande desenvolvimento que constitui, por si só, uma secção
de trabalho astronómico com vida própria e independente. Com a radioastronomia
pode dizer-se que se abriu mais uma janela para a observação dos céus. Já não é
só a luz das estrelas que nos vem revelar a sua constituição, luz essa muitas
vezes inobservável, por encontrar a barreira intransponível de nuvens na nossa
atmosfera ou por ter sido enfraquecida ou absorvida pelas poeiras ou gases
invisíveis existentes nos espaços siderais. Para as ondas de rádio, essas
barreiras não existem; é assim possível a observação de zonas celestes
fortemente obscurecidas por gases ou poeiras e que antes eram inacessíveis à
observação luminosa. Foi-se assim, por intermédio das ondas de rádio,
determinando a estrutura interna da Galáxia em que nos encontramos, estrutura
essa já prevista nas suas linhas gerais, mas só agora acessível a uma
observação directa.
Com o lançamento do primeiro satélite
artificial em 4 de Outubro de 1957 iniciou-se uma nova era na exploração do Universo.
Nesse dia, pela primeira vez, um objecto feito pelo homem abandonou
definitivamente a superfície da Terra e, submetido às leis da mecânica celeste,
passou a gravitar em torno do globo terrestre segundo uma órbita sensivelmente
elíptica. A partir de então um longo caminho já foi percorrido pela exploração
espacial. Em 1969 o homem pisou, pela primeira vez, solo lunar e iniciou a
exploração do nosso satélite natural. Sondas automáticas já desceram em Marte e
em Vénus. Pode dizer-se que todos os planetas do sistema solar, já foram
visitados por sondas espaciais, cujas fotografias enviadas para Terra nos
permitiram obter um conhecimento bastante apreciável acerca da sua constituição
física. É actualmente possível colocar fora da atmosfera terrestre
observatórios automáticos que nos proporcionam métodos de observação bastante
sofisticados e em muito melhores condições do que à superfície da Terra.
Tem interesse notar o modo como o
desenvolvimento gradual dos conhecimentos astronómicos tem vindo pouco a pouco
a destruir a ideia inicial do antropocentrismo ainda tão vigorosa no tempo de
Galileu, há uns escassos três séculos. Até Copérnico, e com raríssimas
excepções, a Terra era considerada como o centro do Universo, e em torno dela
gravitavam o Sol, os planetas e as estrelas. Copérnico mostrou qual a
verdadeira posição do Sol dentro do seu sistema planetário, mas durante muitos
anos pareceu que este sistema ocupava uma posição central dentro da sua Galáxia
que, além disso, se revelava, aparentemente, maior do que todas as outras que
se observavam no céu. Observações e teorias mais recentes acabaram por mostrar
que a posição do Sol na Galáxia estava bem longe de ser central e, finalmente,
que as dimensões daquela não a tornavam um estranho gigante, mas apenas um
representante médio da população a que pertence. Verificou-se depois que as
outras galáxias se estão a afastar da nossa com uma velocidade que é
proporcional à distância a que se encontram. Poderia parecer, portanto, que
ocupamos uma posição especial no espaço intergaláctico, posição essa pouco
invejável, pois que todas as galáxias se afastam da nossa. Este
galactocentrismo, sucessor grandioso do ingénuo geocentrismo inicial, é, porém,
interpretado à base da cosmologia moderna como sendo devido à teoria da Expansão do Universo.
Do resumidíssimo esboço que acaba de
ser feito da evolução que a ciência astronómica tem tido durante o decorrer dos
séculos deve tirar-se uma conclusão. A astronomia actual, aliás como sucede com
todas as ciências, não ocupa um compartimento isolado no conjunto dos
conhecimentos humanos. Vive e evolui utilizando os conhecimentos obtidos por
outros ramos da ciência em geral; precisa da matemática, da física, da química
e da geologia naquilo que estas ciências têm de mais moderno. Necessita igualmente
da biologia, da botânica e da zoologia para fazer a previsão do que poderemos
um dia encontrar noutros planetas que talvez possamos alcançar.
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