domingo, 1 de maio de 2011

A data da Páscoa no Cristianismo

A data da Páscoa no Cristianismo

Nota: Antes de entrarmos propriamente no tema que nos propomos abordar, convém esclarecer o seguinte: a) O Calendário Judaico é um calendário lunar: os meses começam com o aparecimento do crescente lunar, após a Lua nova e terminam no fim da lunação; b) Os dias têm início ao pôr-do-sol e terminam ao pôr-do-sol do dia seguinte: são assim antecipados em cerca de 6 horas em relação ao que se passa no nosso calendário.

O nome Páscoa deriva da palavra hebraica pessach (passagem) que, para os hebreus, significa o cativeiro e a libertação do povo judeu, até então prisioneiro dos faraós egípcios. De acordo com a tradição, a primeira Páscoa ocorreu há cerca ded 3600 anos, quando, segundo a Torá, Deus enviou as dez Pragas sobre o povo do Egipto. Antes da décima Praga, o profeta Moisés recebeu instruções para que cada família hebraica sacrificasse um cordeiro e pintasse os umbrais das portas com o sangue do cordeiro, para que não fossem acometidos pela morte os seus primogénitos.

Chegada a noite, os hebreus comeram a carne do cordeiro, acompanhada de pão ázimo e ervas amargas. Por volta da meia-moite, um anjo enviado por Deus feriu de morte todos os primogénitos egípcios, incluindo os familiares do Faraó. Este, temendo a ira divina, aceitou a libertação do povo de Israel, o que o levou ao Êxodo. Como recordação da sua libertação, o povo de Israel instituiu para todo o sempre o sacrifício da Páscoa. A data escolhida foi o dia de Lua Cheia que ocorra imediatamente a seguir ao equinócio da primavera.

A Páscoa judaica tem, pois, início no dia 14 de Nisan, com a imolação do cordeiro pascal. Nessa mesma noite (mas já 15 de Nisan, no calendário judaico), os fiéis participam nas festividades rituais e comem o cordeiro pascal. A Páscoa era adiada de um dia se o 14 de Nisan fosse uma sexta-feira, par evitar dois dias consecutivos de festa.

A Igreja recorda-nos que Jesus celebrou três Páscoas. Na quarta, vésperas da sua morte, instituiu a Eucaristia e esta última Ceia teve lugar numa quinta-feira à noite (15 de Nisan). A ressurreição ao terceiro dia situa-se, portanto, no domingo, 17 de Nisan. Assim aparece a terceira complicação da Páscoa cristã: os cristãos quiseram que ela fosse celebrada no domingo a seguir à Lua Cheia da primavera.

Sabemos que os mistérios da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo ocorreram quando Pôncio Pilatos era Governador da Judeia, o que ocorreu, segundo os registos romanos, entre os anos 779 e 789 da Fundação de Roma (anos 26 a 36 da nossa Era). Mas existem dúvidas quanto à data exacta: uns alvitram o ano 782, outros optam pelo ano 786).

A astronomia permite resolver esta dúvida. Se a Ceia teve lugar numa quinta-feira, a ambiguidade desapare. Sabemos que no ano 782 de Roma, a Lua nova que se seguiu ao equinócio da primavera teve lugar no dia 3 de Abril; portanto, o mês de Nisan começou com o crescente lunar no dia 4 ou 5 de Abril; o 14 de Nisan correspondeu ao dia 17 de Abril, que foi um domingo, ou ao dia 18 de Abril, que foi uma segunda-feira. O ano 782 está excluído.

No ano 786, a Lua nova do equinócio da primavera teve lugar no dia 19 de Março cerca do meio-dia, hora de Jerusalém. O dia 1 de Nisan deveria ter ocorrido a 20 ou 21 de Março; o dia 14 de Nisan teve lugar ao pôr-do-sol do dia 2 ou 3 de Abril; a cronologia indica-nos que o dia 2 de Abril foi uma quinta-feira e, portanto, o dia da ressurreição, um domingo, caiu no dia 5 de Abril. O verdadeiro aniversário da ressurreição de Cristo será, portanto o dia 5 de Abril. Se um dia se quiser estabilizar a data da Páscoa, este parece ser o dia indicado. Jesus Cristo deveria ter então cerca de 40 anos, pois o seu nascimento deveria ter ocorrido 5 an7 anos, antes da data oficialmente adoptada.

A celebração da Páscoa nas Igrejas cristãs deu inicialmente lugar a imensas confusões: uns escolheram o dia 17 de Nisan, qualquer que fosse o dia da semana; outros, o primeiro domingo depois do dia 17 de Nisan; outros ainda, para poupar os Judeus convertidos, conservaram o costume de celebrar a data da Páscoa no dia antigo da Páscoa judaica, o 14 de Nisan; os mais numerosos, entre os quais se incluía o Papa, optaram por celebrar a solenidade no domingo que seguia ao décimo quarto dia da Lua de Nisan.

Depois de três séculos de conflitos, o Concílio de Niceia, no ano 325, estabeleceu a regra que ainda hoje se aplica:

A Páscoa celebra-se no domingo que se segue ao décimo quarto dia da Lua que atinge esta idade no dia 21 de Março ou imediatamente a seguir.

Trata-se duma Lua convencional do calendário eclesiástico. Notemos que o décimo quarto dia nem sempre coincide com a Lua Cheia.

De acordo com esta regra, a Páscoa pode oscilar entre o dia 22 de Março e o dia 25 de Abril. Com efeito, se a Lua atingir os seus 14 dias em 21 de Março, esta é a Lua pascal; se o dia seguinte for um domingo, é dia de Páscoa. Pelo contrário, se a Lua atingir o seu décimo quarto dia em 20 de Março, já não é a Lua pascal: é preciso esperar pela seguinte e pelo seu décimo quarto dia, que ocorrerá em 18 de Abril. Se este dia for um domingo, é necessário esperar mais uma semana e a Páscoa só será celebrada no dia 25 de Abril. Os inconvenientes civis e religiosos desta perpétua oscilação são bastante grandes.

As datas extremas raramente têm sido alcançadas. Assim, a Páscoa teve lugar no dia 22 de Março em 1598, 1693, 1761, 1818 e voltará a ocorrer em 2285; coincidiu com o dia 25 de Abril nos anos 1666, 1734, 1886, 1943 e voltará a coincidir em 2038 e em 2190.

Quando a Igreja adoptou a regra para fixar a data da Páscoa não se conheciam com exactidão os movimentos aparentes do Sol e da Lua. A data da Lua cheia pascal continua a ser calculada com os conhecimentos de então, resultando algumas discrepâncias, quando comparamos com os valores actualmente obtidos para a data da Lua cheia astronómica. Assim, no ano de 1798, a Páscoa deveria ter sido celebrada no dia 1 de Abril, se se tivesse seguido o movimento real da Lua, mas celebrou-se no domingo seguinte. Em 1818, o dia de Páscoa deveria ter ocorrido no dia 29 de Março se tivéssemos utilizado a Lua cheia astronómica, mas teve lugar no dia 22 de Março.

É a partir da data da Páscoa que dependem, para os católicos, todas as festas móveis: Septuagésima, 63 dias antes; Domingo Gordo, 49 dias antes; Cinzas, 46 dias antes; Ramos, 7 dias antes; Ascensão, 39 dias depois; Pentecostes, 49 dias depois; Santíssima Trindade, 56 dias depois; Corpo de Deus, 60 dias depois; Coração de Jesus, 68 dias depois.