segunda-feira, 11 de abril de 2011

A SEMANA DE 7 DIAS



Entre os vários períodos de contagem do tempo, surgiu a semana, hoje em uso em quase todas as nações civilizadas e de importância fundamental em cronologia.


Durante muito tempo julgou-se que o seu emprego havia sido universal entre os povos antigos. Sabe-se actualmente que não foi bem assim: os egípcios, os chineses, os gregos faziam a contagem em décadas. Foram talvez os hebreus que, pela primeira vez, fizeram uso da semana.


Na Babilónia, o número 7 era considerado como nefasto: esta superstição aritmética impunha que não se realizasse qualquer actividade nos dias 7, 14, 21 e 28 de cada mês. Contudo, os ritos supersticiosos tinham na Mesopotâmia um carácter aristocrático: eles nunca se estendiam ao comum dos mortais. Mas entre as grandes personagens observava-se uma espécie de trevas do sétimo dia. Vê-se neste uso a origem do repouso semanal, que se tornou um costume geral entre os judeus. O carácter fatídico do número 7 teve, talvez, também origem nos 7 planetas que os babilónios julgavam conhecer.


Só muito mais tarde a semana penetrou na Grécia e chegou a Alexandria. A sua utilização no Ocidente data apenas do século III da nossa Era: os calendários anteriores ignoravam este elemento. De acordo com o Génesis, o Mundo foi criado em seis dias e Deus descansou no sétimo. A imensa duração dos tempos geológicos, que tornam evidente o estudo da crusta terrestre e a ordem segundo a qual se sucedeu a evolução dos seres vivos, fizeram com que a Igreja abandonasse o sentido literal do Antigo Testamento.


Contudo, os povos cristãos que adoptaram o domingo como dia de repouso têm tendência a considerar esse dia como o sétimo, como o fim da semana, e a imaginar que esse uso foi ditado pelas Sagradas Escrituras. No entanto, o dia de repouso, entre os povos referenciados no Antigo Testamento, foi sempre o sábado e não o domingo, e continuou assim pelos séculos fora. Foi só após a reforma gregoriana do calendário que se estabeleceu o domingo como dia descanso, para comemorar a Ressurreição de Cristo.



Os nomes dos dias e a sua ordem na semana


Na maior parte das línguas europeias, os nomes dos dias da semana estão associados aos 7 astros móveis que os Antigos tinham detectado na abóbada celeste e a que eles davam o nome de planetas: Saturno, Júpiter, Marte, Sol, Vénus, Mercúrio e Lua, por ordem decrescente das suas distâncias à Terra. Entre esses corpos incluía-se o Sol, que sabemos ser uma estrela, e a Lua, o satélite da Terra.


Os dias da semana eram consagrados àqueles planetas, mas dispostos por uma ordem singular, vinda talvez dos gregos. Naquele tempo, as sucessivas horas do dia eram consagradas aos 7 planetas pela ordem anteriormente mencionada, e recomeçando a série até completar as 24 horas. Ao dia era dado o nome do astro que presidia à primeira hora. Por exemplo, a primeira hora de sábado (Saturni dies) era dedicada a Saturno, a segunda a Júpiter, a terceira a Marte,..., a sétima à Lua, a oitava a Saturno,..., a vigésima quarta a Marte. O dia seguinte começava por uma hora consagrada ao Sol (Solis dies) e a vigésima quarta era consagrada a Mercúrio. O dia seguinte começava por uma hora consagrada à Lua (Lunae dies). E assim sucessivamente.


Resultaram assim os seguintes nomes: Solis dies, Lunae dies, Martis dies, Mercurii dies, Jovis dies, Veneris dies e Saturni dies. Esta nomenclatura passou as línguas românicas, com excepção da portuguesa, e para algumas das celtas e a germânica. Por influência judaica e cristã, o Saturni dies foi substituído por Shabbath (último dia da semana do calendário judaico, que significa repouso e que era dedicado ao descanso e às orações) e o Solis dies por Dies Dominica (Dia do Senhor, associado à Ressurreição de Cristo), que passaram para as línguas mencionadas, excepto para o inglês, que conservou os nomes pagãos Saturday e Sunday.


O sistema enumerativo dos hebreus, que contavam os dias a partir de sábado (prima sabbati, secunda sabbati, tertia sabbati, quarta sabbati, quinta sabati, sexta sabatti e sabbatum), foi adoptado por muitos cristãos desde fins do século II e o Papa S. Silvestre oficializou-o nas funções litúrgicas, substituindo a palavra sabbati por feria, com o significado de "festa" ou "dia de descanso". Apesar de consagrado no calendário eclesiástico e de Santo Agostinho ter criticado a nomenclatura pagã, o sistema enumerativo, seguido da palavra feria, vingou apenas na língua portuguesa e, em parte, no galego. Entretanto, a palavra feria evoluiu para feira.


Embora alguns autores, como José Pedro Machado, tenham tentado explicar o particularismo português a partir do sistema enumerativo árabe, outros, como Paiva Boléu e o padre Manuel de Oliveira, provaram que os nomes dos dias em português são de origem eclesiástica e não árabe, por já aparecerem no nosso território antes da invasão dos árabes. Nos nossos documentos medievais, quando se indicava o dia da semana, usava-se sempre a nomenclatura eclesiástica. O facto de a Galiza manter também o sistema enumerativo explica-se, provavelmente, por ter pertencido à Metrópole de Braga.