quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

A Estrela de Belém

A Estrela de Belém:


mito ou realidade?


Os documentos existentes relativos a Jesus Cristo foram escritos várias décadas após a sua morte. Jesus não foi considerado importante quando em vida; por isso, não dispomos de detalhes precisos da sua vida, nomeadamente do sue nascimento.


As principais fontes de informação não bíblias sobre a Palestina, no tempo de Jesus, devem-se a Flavius Josephus, historiador judeu que escreveu entre os anos 70 e 100 da nossa Era. Numa das suas obras, faz uma breve referência a Jesus na sua fase adulta, mas sem precisar datas ou idades. Também Tacitus, historiador romano, mais ou menos contemporâneo de Flavius, faz uma breve referência a Jesus, mas à sua morte.


Só alguns séculos após a morte de Cristo, é que se pôs a questão de ligar este acontecimento a uma origem de contagem do tempo. A proposta foi apresentada pelo monge cita Dionísio o Exíguo por volta do ano 1282 da Fundação de Roma “ab urbe condita” (532 da nossa Era), no tempo do Papa João I. Dionísio o Exíguo supunha, de acordo com as suas investigações, que Jesus Cristo tinha vindo ao mundo no dia 25 de Dezembro (VIII das calendas de Janeiro) do ano 753 de Roma e fixara nessa data o início da Era cristã. Mas os cronologistas introduziram um atraso de sete dias, de maneira que o início da Era cristã foi transferido para o dia 1 de Janeiro do ano 754 de Roma.


Posteriormente, verificou-se que os cálculos não estavam correctos e que Cristo deveria ter nascido 5 a 7 anos antes da data em que se celebra o seu nascimento. Com efeito, essa data é posterior ao édito do recenseamento do mundo romano (ano 747 de Roma ou mais cedo) e anterior à morte de Herodes (ano 750 de Roma). Mas, para não perturbar a cronologia já estabelecida, foi mantida a data inicialmente proposta, embora tivesse deixado de corresponder ao significado inicial.


Após esta breve introdução, para nos situarmos no tempo, vamos abordar o tema a que nos propusemos. Na Bíblia, as únicas informações que temos encontram-se nos Evangelhos segundo São Mateus (Cap. 2; vers. 1 a 12 e 16) e São Lucas (Cap. 2; vers. 1 a 7), mas sem qualquer referência a datas e apenas no primeiro encontramos referência à Estrela de Belém. Diz São Mateus: “Tendo Jesus nascido em Belém da Judeia, no tempo do rei Herodes, chegaram a Jerusalém uns magos vindos do Oriente: onde está o rei dos Judeus que acaba de nascer? ‒ perguntaram. Vimos a sua Estrela no Oriente e viemos adorá-lo”.


Ao ouvir tal notícia, o rei Herodes ficou preocupado, pois sabia ser pouco amado pelo seu povo e temia que a notícia despertasse um movimento de contestação da parte dos que esperavam pela chegada do Messias. Mandou chamar os magos para obter informações concretas sobre a estrela que lhes havia aparecido e pediu-lhes que o procurassem no regresso e o informassem do local onde se encontrava o menino, pois também ele queria ir adorá-lo. Após estas palavras do rei, os magos puseram-se a caminho e a estrela que tinham visto no Oriente, ia à sua frente e conduziu-os até ao local desejado, o que lhes provocou uma grande alegria. Entrando em casa, viram o menino junto de Maria, sua mãe. Depois de o adorarem, ofereceram-lhe os presentes que traziam: ouro, incenso e mirra. Avisados em sonhos das más intenções de Herodes, regressaram às suas terras por outro caminho.


O Evangelho de São Lucas apenas faz referência ao édito do recenseamento do mundo romano e à viagem de José e Maria, de Nazaré (Galileia) até Belém (Judeia), bem como às condições em que ocorreu o nascimento de Jesus.


A imaginação popular transformou os magos em reis, que seriam três, por serem três os tipos de presentes e baptizou-os com os nomes de Melchior (rei da Pérsia), Gaspar (rei da Índia) e Baltazar (rei da Arábia).


Mas, afinal, o que teria sido a Estrela de Belém? A primeira explicação foi a de que teria sido um cometa e alguns astrónomos, no século XVI, sugeriram mesmo o nome do cometa de Halley. Mas a aparição deste cometa, mais próxima do nascimento de Cristo, ocorreu no ano 12 a.C. e, portanto, muito longe da data prevista. Não existem referências a outros cometas visíveis a olho nu entre os anos 7 a.C. e o ano 1 da nossa Era, período admissível para o nascimento de Cristo.


Teria sido uma “nova” (estrela velha que repentinamente aumenta intensamente de brilho, em consequência de uma enorme explosão ocorrida no seu interior)? Estas estrelas permanecem visíveis a olho nu durante algumas semanas ou mesmo meses, para depois desaparecerem lentamente. Se fosse uma “nova”, ela teria sido notada por outras pessoas que contemplassem o céu e haveria alguns registos dessa aparição, o que não acontece.


Na hipótese de a Estrela de Belém ser uma realidade, o mais provável é que tenha sido a conjunção de dois ou mais planetas. Com efeito, no ano 7 a.C. houve uma tripla conjunção entre Júpiter e Saturno na constelação dos Peixes. Estes planetas aproximaram-se bastante no céu, mas não o suficiente para serem confundidos como uma estrela única, nos meses de Maio, Setembro e Dezembro. Os que acreditam ver nesta tripla conjunção a Estrela de Belém, argumentam: os magos viram a primeira conjunção e puseram-se a caminho; durante a segunda, chegaram a Jerusalém; e, durante a terceira, chegaram a Belém.


Em Fevereiro do ano 6 a.C. houve igualmente uma grande aproximação (quase conjunção) entre Júpiter, Saturno e Marte, também na constelação dos Peixes. Seria esta aproximação a Estrela de Belém?


Coloca-se também a hipótese de se ter tratado duma aproximação entre Júpiter e Régulo (a estrela mais brilhante da constelação do Leão), ocorrida em Setembro do ano 3 a.C. Esta constelação era considerada a constelação dos reis e também estava associada ao “Leão de Judá”. Seria este o sinal que levou os magos a iniciarem a viagem? Em Outubro do mesmo ano, houve uma conjunção entre Júpiter e Vénus, também na constelação do Leão. Em Fevereiro e Maio do ano seguinte, aconteceram igualmente duas conjunções entre Júpiter e Régulo e ainda em Junho temos mais uma conjunção, agora entre Júpiter e Vénus.


São estes os fenómenos astronómicos conhecidos que ocorreram durante o período do provável nascimento de Jesus Cristo. Alguns historiadores defendem actualmente que Herodes teria morrido não no ano 750 de Roma, mas sim no ano anterior, o que encurta o intervalo das dúvidas acerca do nascimento de Cristo. Também, pelas descrições feitas no Evangelho segundo São Lucas, acerca dos pastores que pernoitavam nos campos junto dos seus rebanhos, enquanto estes pastoreavam, não é crível que Cristo tenha nascido em fins de Dezembro, visto nessa época do ano estar muito frio, durante a noite, naquela região e escassearem as pastagens. É mais provável que o nascimento tenha ocorrido numa época mais amena. Aliás, durante os primeiros séculos do cristianismo, o nascimento de Jesus foi celebrado em diversas épocas, nomeadamente na Primavera. Só após os estudos de Dionísio o Exíguo é que se optou pelo dia 25 de Dezembro. Este dia deveria ter sido escolhido para coincidir com uma festa pagã que se celebrava, nessa data, no mundo romano.


Quanto à Estrela de Belém, era crença no mundo antigo associar o nascimento de um grande pensador ao aparacimento de uma estrela brilhante. Aconteceu isso com Buda, Confúcio, Sócrates, etc., e que os magos acorriam imediatamente a homenageá-lo, a adorá-lo, levando-lhe igualmente presentes. Esta é a realidade dos factos. Como surgiu a descrição apresentada no Evangelho segundo São Mateus, atrás referenciada? Não sabemos …