AS CONSTELAÇÕES
Qualquer que seja a latitude em que
nos encontramos, parece sempre que todos os astros se situam à mesma distância
de nós, no interior duma esfera a que se deu o nome de abóbada celeste ou simplesmente céu.
Durante o dia o céu, se não estiver
coberto de nuvens, é azul e nós vemos o Sol, o mais brilhante dos astros. Por
vezes, além do Sol, vemos também a Lua e muito raramente outros corpos
celestes, o planeta Vénus, por exemplo.
Numa noite sem nuvens vêem-se no céu
estrelas, a Lua, planetas, nebulosas, por vezes cometas e outros corpos
celestes. Quando se observa o céu estelar, a primeira impressão com que se fica
é a de existir um número infinito de estrelas e a sua distribuição parece
desordenada. Na realidade, as estrelas visíveis a olho nu não são assim tão
numerosas, cerca de 6000 em toda a esfera celeste e, portanto, no hemisfério
visível, não mais de 3000.
A posição relativa das estrelas varia
muito lentamente. Sem medidas precisas, é impossível apercebemo-nos das
modificações que se produzem na disposição das estrelas no decorrer de alguns
séculos; em geral, isso só se consegue ao fim de alguns milhares de anos.
Para permitir a orientação no céu, as
estrelas brilhantes foram, desde a Antiguidade, reunidas em grupos chamados constelações. A estes agrupamentos
foram dados nomes de animais, de heróis da mitologia grega ou apenas nomes de
objectos que essas figuras pareciam representar e que variavam conforme as
civilizações.

Não sabemos quando é que as constelações apareceram pela primeira vez. Pequenas placas sumérias, que datam de há cerca de 6000 anos, reproduzem o movimento do planeta Vénus e numerosos argumentos fazem-nos pensar que os criadores mais antigos das constelações foram os minoicos, que as imaginaram por volta do ano 2500 a.C., em Creta. Aliás, a mais antiga representação concreta do céu constelado está esculpida num globo que Atlas transporta às costas e que data do século II a.C. Trata-se do «Atlas Farnase», uma estátua de mármore conservada em Nápoles, no Museu de Arqueologia Nacional. Certamente que bastante antes dessas épocas muito recuadas, os homens já tinham uma representação simbólica do céu estrelado sem que, para tal, tivessem encontrado as técnicas que lhes teriam permitido transmitir o ser saber às gerações futuras. Na nos permite afirmar ou infirmar isso, por falta de documentos suficientemente antigos.
Durante muito tempo, os limites das
constelações mantiveram-se mal definidos, tendo surgido dificuldades quando foi
preciso catalogar numerosas estrelas pouco brilhantes, apenas acessíveis à
observação telescópica. Por isso, alguns astrónomos tomaram a iniciativa de
desenhar novas figuras celestes, intercalando-as nas antigas. Assim, nos fins
do século XIX, contavam-se ao todo 108 constelações, mas os seus limites não
eram universalmente reconhecidos. Para obviar a estes inconvenientes, a União
Astronómica Internacional em 1922 decidiu delimitar rigorosamente as
constelações por arcos de meridianos e de paralelos perfeitamente definidos.
Desde então, o conjunto do céu está dividido em 88 constelações (conservaram-se
as 48 de Ptolomeu), compreendendo cada uma, além do agrupamento de estrelas
brilhantes que inicialmente serviram para lhe dar o nome, uma região do céu
convencionalmente delimitada.
Nas nossas
latitudes podemos visualizar cerca de 60 constelações, isto é, o conjunto das
constelações do hemisfério norte e cerca de um quarto do hemisfério sul. Bem
entendido, não podemos observá-las todas ao longo duma noite. Algumas apenas
são visíveis no inverno, outras no verão, variando o céu no decorrer da noite e
ao longo das estações. Teoricamente, apenas as pessoas que no longo do equador
terrestre podem distinguir todas as constelações ao longo do ano. Pelo
contrário, os habitantes dos polos apenas veem as constelações do seu
hemisfério.
No quadro junto estão indicadas as 88
constelações por ordem alfabética dos nomes latinos com que foi decidido
designá-las. É igualmente indicado o genitivo do nome latino, utilizado para a
designação das estrelas, bem como o nome português geralmente adoptado. As
letras N, S e E, colocadas na primeira coluna, significam que o ponto médio da
constelação referenciada tem uma declinação superior a +30° (calote polar
norte), inferior a -30° (calote
polar sul) ou compreendida entre +30° e -30°. As
abreviaturas foram igualmente definidas pela União Astronómica Internacional,
para evitar ambiguidades.
As
estrelas mais brilhantes foram inicialmente designadas por um nome recordando a
sua posição na figura representativa da constelação. Muitos deles, em geral de
origem árabe, ainda hoje se mantêm: Sírio, Altair, Vega, Aldebarã, etc. Em
1603, o astrónomo alemão Johann Bayer teve a ideia de introduzir uma
nomenclatura simples e racional, utilizando as letras do alfabeto grego. Em
cada constelação, a estrela mais brilhante é designada por a, a seguinte por ß e assim sucessivamente, seguida do
genitivo do nome latino da constelação (por exemplo, a Lyrae). Mas, devido à riqueza do céu, esta série
esgotou-se depressa para algumas constelações e foi necessário recorrer às
letras do alfabeto latino e depois aos números. Esta classificação não
corresponde actualmente à realidade, visto certas estrelas terem mudado de
brilho. Assim, a estrela mais brilhante da Ursa Maior é e e não a. Do mesmo modo, ß
Geminorum (Pollux) é um pouco mais brilhante do que a Geminorum (Castor).
Nome latino (e terminação
|
Nome português
|
Abrev.
|
|
do genitivo)
|
|||
N
|
Andromeda (-ae)
|
Andrómeda
|
And
|
S
|
Antlia (-ae)
|
Máquina
Pn
|
Ant
|
S
|
Apus (-odis)
|
Ave-do-paraíso
|
Aps
|
E
|
Aquarius (-ii)
|
Aquário
|
Aqr
|
E
|
Aquila (-ae)
|
Águia
|
Aql
|
S
|
Ara (-ae)
|
Altar
|
Ara
|
E
|
Aries (-tis)
|
Carneiro
|
Ari
|
N
|
Auriga (-ae)
|
Cocheiro
|
Aur
|
E
|
Bootes (-is)
|
Boieiro
|
Boo
|
S
|
Caelum (-i)
|
Buril
|
Cae
|
N
|
Camelopardalis
(-)
|
Girafa
|
Cam
|
E
|
Cancer (-cri)
|
Caranguejo
|
Cnc
|
N
|
Canes (-um) Venatici (-orum)
|
Cães
de Caça
|
CVn
|
E
|
Canis
(-) Major (-is)
|
Cão
Maior
|
CMa
|
E
|
Canis
(-) Minor (-is)
|
Cão
Menor
|
CMi
|
E
|
Capricornus (-i)
|
Capricórnio
|
Cap
|
S
|
Carina (-ae)
|
Querena
|
Car
|
N
|
Cassiopeia (-ae)
|
Cassiopeia
|
Cas
|
S
|
Centaurus (-i)
|
Centauro
|
Cen
|
N
|
Cepheus (-i)
|
Cefeu
|
Cep
|
S
|
Cetus (-i)
|
Baleia
|
Cet
|
S
|
Chamaeleon
(-ontis)
|
Camaleão
|
Cha
|
S
|
Circinus (-i)
|
Compasso
|
Cir
|
S
|
Columba (-ae)
|
Pomba
|
Col
|
E
|
Coma (-ae) Berenices
|
Cabeleira
de Berenice
|
Com
|
S
|
Corona (-ae) Australis
|
Coroa
Austral
|
CrA
|
N
|
Corona (-ae) Borealis
|
Coroa
Boreal
|
CrB
|
E
|
Corvus (-i)
|
Corvo
|
Crv
|
E
|
Crater
(-is)
|
Taça
|
Crt
|
E
|
Crux (-cis)
|
Cruzeiro
do Sul
|
Cru
|
E
|
Delphinus (-i)
|
Delfim
|
Del
|
N
|
Cygnus
(-i)
|
Cisne
|
Cyg
|
S
|
Dorado (-us)
|
Dourada
|
Dor
|
N
|
Draco (-nis)
|
Dragão
|
Dra
|
E
|
Equuleus (-i)
|
Cavalinho
|
Que
|
E
|
Eridanus (-i)
|
Eridano
|
Eri
|
S
|
Fornax (-acis)
|
Fornalha
|
For
|
E
|
Gemini (-orum)
|
Gémeos
|
Gem
|
S
|
Grus (-is)
|
Grou
|
Gru
|
N
|
Hercules
(-is)
|
Hércules
|
Her
|
S
|
Horologium (-ii)
|
Relógio
|
Hor
|
E
|
Hydra (-ae)
|
Hidra
Fêmea
|
Hya
|
S
|
Hydrus (-i)
|
Hidra
Macho
|
Hyi
|
S
|
Indus (-i)
|
Índio
|
Ind
|
N
|
Lacerta (-ae)
|
Lagartixa
|
Lac
|
E
|
Leo
(-nis)
|
Leäo
|
Leo
|
N
|
Leo
(-nis) Minor (-is)
|
Leão
Menor
|
LMi
|
E
|
Lepus (-oris)
|
Lebre
|
Lep
|
E
|
Libra (-ae)
|
Balança
|
Lib
|
S
|
Lupus (-i)
|
Lobo
|
Lup
|
N
|
Lyns (-cis)
|
Lince
|
Lyn
|
N
|
Lyra (-ae)
|
Lira
|
Lyr
|
S
|
Mensa (-ae)
|
Mesa
|
Men
|
S
|
Microscopium (-ii)
|
Microscópio
|
Mic
|
E
|
Monoceros (-otis)
|
Unicórnio
|
Mon
|
S
|
Musca (-ae)
|
Mosca
|
Mus
|
S
|
Norma (-ae)
|
Régua
|
Nor
|
S
|
Octans (-tis)
|
Oitante
|
Oct
|
E
|
Ophiuchus (-i)
|
Ofiúco
|
Oph
|
E
|
Orion
(-is)
|
Orionte
|
Ori
|
S
|
Pavo
(-nis)
|
Pavão
|
Pav
|
E
|
Pegasus (-i)
|
Pégaso
|
Peg
|
N
|
Perseus (-i)
|
Pers
|
Per
|
S
|
Phoenix (-cis)
|
Fénix
|
Phe
|
S
|
Pictor (-is)
|
Pintor
|
Pic
|
E
|
Pisces (ium)
|
Peixes
|
Psc
|
S
|
Piscis (-)
Austrinus (-i)
|
Peixe
Austral
|
PsA
|
S
|
Puppis (-)
|
Popa
|
Pup
|
S
|
Pyxis (-idis)
|
Bússola
|
Pyx
|
S
|
Reticulum (-i)
|
Retículo
|
Ret
|
E
|
Sagitta (-ae)
|
Flecha
|
Sge
|
E
|
Sagittarius (-ii)
|
Sagitário
|
Sgr
|
E
|
Scorpius (-ii)
|
Escorpião
|
Sco
|
S
|
Sculptor
(-is)
|
Escultor
|
Scl
|
N
|
Scutun (-i)
|
Escudo
de Sobieski
|
Sct
|
N
|
Serpens (-tis)
|
Serpente
|
Ser
|
E
|
Sextans (-tis)
|
Sextante
|
Sex
|
E
|
Taurus (-i)
|
Touro
|
Tau
|
S
|
Telescopium (-ii)
|
Telescópio
|
Tel
|
N
|
Triangulum (-i)
|
Triângulo
|
Tri
|
S
|
Triangulum (-i) Australe (-is)
|
Triângulo
Austral
|
TrA
|
S
|
Tucana (-ae)
|
Tucano
|
Tuc
|
N
|
Ursa (-ae) Major (-is)
|
Ursa
Maior
|
UMa
|
N
|
Ursa (-ae) Minor (-is)
|
Ursa
Menor
|
UMi
|
S
|
Vela (-orum)
|
Vela
|
Vel
|
E
|
Virgo (-inis)
|
Virgem
|
Vir
|
S
|
Volans (-tis)
|
Peixe
Voador
|
Vol
|
E
|
Vulpecula (-ae)
|
Raposinha
|
Vul
|
Notas:
1. A
longa constelação da Serpente foi dividida em duas partes separadas:
a Cabeça da Serpente (Serpens
Caput) e a Cauda da Serpente (SerpensCauda); mas é errado considerá-la como duas constelações distintas
2. As constelações da Querena, Popa, Bússola e Vela estavam antigamente e
agrupadas numa única constelação, a Nau Argo (Argo Navis) de Ptolomeu.
Ora, as diferenças
de afastamento dos astros são enormes. Enquanto a Lua está apenas a uma
distância média de 384 400 km, o Sol está 400 vezes mais afastado e Saturno, o
último planeta visível a olho nu, está situado a 1429,4 milhões de km. Mas
estas distâncias não são nada comparadas às que nos separam das estrelas.
Assim, a estrela mais próxima de nós depois do Sol, a Proxima Centauri,
encontra-se a uma distância de 4,2 anos-luz (1 ano-luz = 149,6 milhões de km),
enquanto a Estrala Polar se encontra a 680 anos-luz, ao passo que Deneb (da
constelação do Cisne) está cerca de três vezes mais afastada. Se analisarmos o
caso de Castor e Pólux (Gémeos), que aparentemente nos parecem muito próximas,
a diferença de profundidade celeste entre elas é de 10 anos-luz.
Podemos assim
concluir que o aspeto das constelações, tal e qual como as vemos a partir da
Terra, é apenas um efeito de perspetiva e não têm nada a ver com o que passa na
realidade a três dimensões. Se imaginarmos um observador situado em Saturno a
contemplar a abóbada celeste, certamente que ele verá o conjunto das estrelas
que para nós, terrestres, formam uma determinada constelação com um aspeto
bastante diferente. Se passarmos para um habitante num planeta a orbitar em
torno de uma determinada estrela então nem sequer podemos imaginar o aspeto
apresentado por esse mesmo conjunto de estrelas e, certamente, projetar-se-ão
na abóbada celeste bastante afastadas umas das outras.
Gostei!
ResponderEliminarNão fazia ideia que seriam apenas 6000 estrelas as possíveis de ver...