TUNGUSKA (O acontecimento de)
A propósito do meteorito caído no passado dia 14 de
Fevereiro em Cheliabinsk (Rússia), junto à fronteira com o Cazaquistão, e que
provocou uma enorme onda de destroços e mais de 1000 feridos, veio-me à memória
um caso semelhante ocorrido há pouco mais de um século: O acontecimento de Tunguska.
Tratou-se dum enorme cataclismo ocorrido na manhã do dia
30 de Junho de 1908 na região montanhosa e arborizada do rio Tunguska, na
Sibéria Central, 800 km a noroeste do lago Baikal. Uma gigantesca bola de fogo
foi observada por alguns camponeses aterrorizados e a violenta explosão, que se
deu em seguida, foi ouvida a mais de 800 km de distância. Num raio de 600 km, a
partir do ponto de queda, os condutores dos comboios, assustados, pararam as
suas composições. Os fragmentos do bólide devastaram o terreno numa área
circular de 80 km de diâmetro. Os abetos, atingidos pela violenta deslocação do
ar, foram arrancados, cortados e incendiados num raio de 10 km. A onda de
choque foi sentida em Washington e em Java e durante as noites seguintes, na
Europa, na Ásia e na América, o céu apresentou uma luminosidade estranha, que
persistiu durante cerca de dois meses, provocada pelas nuvens de poeira que
flutuavam a cerca de 80 km de altura.
Foram escavadas mais de 200 crateras, de 1 a 5 metros de
diâmetro, atualmente cheias de água. Segundo o astrónomo soviético Astapovitch, o bólide
pesaria, provavelmente, um milhão de toneladas quando entrou na atmosfera.
Penetrou nela a uma velocidade de 60 km/s e o calor gerado pelo contacto com as
moléculas de ar, devia ter sido da ordem de 5×1020 calorias. A
elevada temperatura atingida pelo bólide provocou gradualmente a fusão das
camadas superficiais, depois a sua volatilização, de maneira que, quando chegou
perto do solo, deveria ter apenas 40 000 ou 50 000 toneladas. Apesar de não
terem sido encontradas grandes pedaços do bólide, que explodiu no ar, parece
que as amostras do solo da região contêm lascas microscópicas e esférulas de
poeira de ferro-níquel.
A ausência de uma grande cratera e de evidências diretas
do objeto, que teria provocado a explosão, levou a serem formuladas diversas
teorias para explicar a ocorrência. Apesar de ser ainda um assunto em debate,
de acordo com alguns estudos recentes a destruição teria sido provocada pelas
massas de ar após a explosão de um meteoroide ou de um fragmento de cometa a
uma altitude de 5 a 10 km de altitude, devido ao atrito provocado pela sua
entrada na atmosfera. O corpo deveria ter um diâmetro de algumas dezenas de
metros e a energia da explosão deveria ser da ordem de 10 a 15 megatoneladas de
TNT, isto é, cerca de 1000 vezes a bomba de Hiroshima, tendo provocando um
sismo que se prevê ser da ordem de grau 5 na escala de Richter.
Relativamente à natureza do corpo, a questão continua a
ser debatida. Em 1930, o astrónomo norte-americano Fred Whipple sugeriu que
teria sido um pequeno cometa, um objeto essencialmente constituído por gelo e
poeiras, que se teria vaporizado completamente na atmosfera, não deixando
traços visíveis. Esta hipótese recebeu uma aceitação considerável, em virtude
do brilho noturno, que se observou no céu durante muitas noites, poderia ser
explicado pela luz do Sol refletida no gelo e nas poeiras dispersas pela cauda
do cometa na alta atmosfera.
Em 1978, o astrónomo eslovaco Lubor Kresák sugeriu que
talvez se tratasse dum fragmento do cometa Encke, responsável pela chuva de
meteoros conhecida por β Táuridas. A ocorrência coincidiu com um pico de
atividade da referida chuva e a trajetória estimada do corpo que provocou a
explosão está de acordo com a que tomaria um fragmento de cometa.
Em 1983, o astrónomo checo Zdnek Sekanina publicou alguns
artigos criticando a hipótese cometária. Segundo ele, se se tratasse dum corpo
cometário, seguindo a trajetória observada, ele ter-se-ia desintegrado a grande
altitude e não na baixa atmosfera como, de facto, aconteceu. Sugeriu que
deveria tratar-se dum corpo mais denso, de natureza rochosa, provavelmente um
fragmento de asteroide. Esta hipótese é igualmente defendida por outros
astrónomos, visto que a sua trajetória leva a concluir tratar-se dum corpo
vindo da cintura de asteroides. A grande dificuldade em aceitar esta teoria é
que se trataria dum corpo rochoso e teria dado origem a uma enorme cratera e
esta nunca foi encontrada. Porém, na década de 1990, alguns investigadores
italianos extraíram resina de algumas árvores na zona de impacto e encontraram
altas taxas de metais existentes nos asteroides e raramente nos cometas. Daqui
toda a confusão acerca da sua natureza.
Várias outras teorias têm sido apresentadas, embora de
pouca aceitação. Destacamos: choque com um mini buraco negro, choque com um
pedaço de antimatéria, encontro com uma neve extraterrestre, etc. Dado que
estas hipóteses não nos parecem ser aceitáveis, não lhe daremos qualquer
desenvolvimento.
Sem comentários:
Enviar um comentário