domingo, 17 de fevereiro de 2013


 
TUNGUSKA (O acontecimento de)

 

A propósito do meteorito caído no passado dia 14 de Fevereiro em Cheliabinsk (Rússia), junto à fronteira com o Cazaquistão, e que provocou uma enorme onda de destroços e mais de 1000 feridos, veio-me à memória um caso semelhante ocorrido há pouco mais de um século: O acontecimento de Tunguska.

Tratou-se dum enorme cataclismo ocorrido na manhã do dia 30 de Junho de 1908 na região montanhosa e arborizada do rio Tunguska, na Sibéria Central, 800 km a noroeste do lago Baikal. Uma gigantesca bola de fogo foi observada por alguns camponeses aterrorizados e a violenta explosão, que se deu em seguida, foi ouvida a mais de 800 km de distância. Num raio de 600 km, a partir do ponto de queda, os condutores dos comboios, assustados, pararam as suas composições. Os fragmentos do bólide devastaram o terreno numa área circular de 80 km de diâmetro. Os abetos, atingidos pela violenta deslocação do ar, foram arrancados, cortados e incendiados num raio de 10 km. A onda de choque foi sentida em Washington e em Java e durante as noites seguintes, na Europa, na Ásia e na América, o céu apresentou uma luminosidade estranha, que persistiu durante cerca de dois meses, provocada pelas nuvens de poeira que flutuavam a cerca de 80 km de altura.

Foram escavadas mais de 200 crateras, de 1 a 5 metros de diâmetro, atualmente cheias de água. Segundo o astrónomo soviético Astapovitch, o bólide pesaria, provavelmente, um milhão de toneladas quando entrou na atmosfera. Penetrou nela a uma velocidade de 60 km/s e o calor gerado pelo contacto com as moléculas de ar, devia ter sido da ordem de 5×1020 calorias. A elevada temperatura atingida pelo bólide provocou gradualmente a fusão das camadas superficiais, depois a sua volatilização, de maneira que, quando chegou perto do solo, deveria ter apenas 40 000 ou 50 000 toneladas. Apesar de não terem sido encontradas grandes pedaços do bólide, que explodiu no ar, parece que as amostras do solo da região contêm lascas microscópicas e esférulas de poeira de ferro-níquel.

A ausência de uma grande cratera e de evidências diretas do objeto, que teria provocado a explosão, levou a serem formuladas diversas teorias para explicar a ocorrência. Apesar de ser ainda um assunto em debate, de acordo com alguns estudos recentes a destruição teria sido provocada pelas massas de ar após a explosão de um meteoroide ou de um fragmento de cometa a uma altitude de 5 a 10 km de altitude, devido ao atrito provocado pela sua entrada na atmosfera. O corpo deveria ter um diâmetro de algumas dezenas de metros e a energia da explosão deveria ser da ordem de 10 a 15 megatoneladas de TNT, isto é, cerca de 1000 vezes a bomba de Hiroshima, tendo provocando um sismo que se prevê ser da ordem de grau 5 na escala de Richter.

Relativamente à natureza do corpo, a questão continua a ser debatida. Em 1930, o astrónomo norte-americano Fred Whipple sugeriu que teria sido um pequeno cometa, um objeto essencialmente constituído por gelo e poeiras, que se teria vaporizado completamente na atmosfera, não deixando traços visíveis. Esta hipótese recebeu uma aceitação considerável, em virtude do brilho noturno, que se observou no céu durante muitas noites, poderia ser explicado pela luz do Sol refletida no gelo e nas poeiras dispersas pela cauda do cometa na alta atmosfera.

Em 1978, o astrónomo eslovaco Lubor Kresák sugeriu que talvez se tratasse dum fragmento do cometa Encke, responsável pela chuva de meteoros conhecida por β Táuridas. A ocorrência coincidiu com um pico de atividade da referida chuva e a trajetória estimada do corpo que provocou a explosão está de acordo com a que tomaria um fragmento de cometa.

Em 1983, o astrónomo checo Zdnek Sekanina publicou alguns artigos criticando a hipótese cometária. Segundo ele, se se tratasse dum corpo cometário, seguindo a trajetória observada, ele ter-se-ia desintegrado a grande altitude e não na baixa atmosfera como, de facto, aconteceu. Sugeriu que deveria tratar-se dum corpo mais denso, de natureza rochosa, provavelmente um fragmento de asteroide. Esta hipótese é igualmente defendida por outros astrónomos, visto que a sua trajetória leva a concluir tratar-se dum corpo vindo da cintura de asteroides. A grande dificuldade em aceitar esta teoria é que se trataria dum corpo rochoso e teria dado origem a uma enorme cratera e esta nunca foi encontrada. Porém, na década de 1990, alguns investigadores italianos extraíram resina de algumas árvores na zona de impacto e encontraram altas taxas de metais existentes nos asteroides e raramente nos cometas. Daqui toda a confusão acerca da sua natureza.

Várias outras teorias têm sido apresentadas, embora de pouca aceitação. Destacamos: choque com um mini buraco negro, choque com um pedaço de antimatéria, encontro com uma neve extraterrestre, etc. Dado que estas hipóteses não nos parecem ser aceitáveis, não lhe daremos qualquer desenvolvimento.

Sem comentários:

Enviar um comentário